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A superação do câncer, dois anos depois

A superação do câncer, dois anos depois


O câncer é um divisor de águas, sem dúvidas. Mas no caso de Regina, parece que foi apenas um vento que passou há dois anos, sem deixar muitas marcas. Lembro como se fosse hoje do susto que tive quando entrevistei ela pela primeira vez, há exatos dois anos. Ela estava num estúdio de Pilates – Estúdio Rosi Dias -, sem cabelos, e sorrindo. Me parecia que as coisas estavam fora do lugar, pois a gente ainda carrega o estereótipo de doente de câncer como alguém cuja coisa mais improvável para fazer é exercícios e sorrir.

 

Regina Lazzaretti Manique da Silva tem hoje 58 anos, é professora aposentada, e para ocupar o tempo, faz tortas e doces por encomenda (aliás, doces maravilhosos). O diagnóstico de câncer de mama foi em fevereiro de 2016 e a cura chegou ainda naquele ano, no mês de setembro. A matéria que fizemos com Regina em 2016 você pode ver no link https://is.gd/o4j7QA e terá uma ideia de como foi o processo da doença. Hoje, a visita à Regina, em casa e no estúdio de Pilates, serve para falarmos do processo de cura. E é o que vamos fazer a seguir.

 

“Eu tive alguns efeitos da quimioterapia: perdi o paladar, as mãos ficaram ressecadas e as unhas quebradiças. Mas todas estas consequências passaram e atualmente minha vida é normal. Faço tudo que fazia antes do câncer”, contou Regina, entre um chimarrão e outro, quando o assunto é “a vida depois do câncer”.

 

Ela conta que, desde a primeira entrevista – na verdade desde o diagnóstico da doença – no seu dia a dia nada mudou radicalmente. “Ao saber do diagnóstico fiquei muito assustada, afinal, não fazia parte do grupo de risco. No decorrer do tratamento entendi que, por não fazer parte deste grupo, teria condições favoráveis para enfrentá-lo. E foi o que aconteceu. Apenas continuei com meus hábitos alimentares, sempre priorizando alimentos orgânicos, naturais e evitando os processados. Evito açúcar e carnes vermelhas. Priorizo atividades que me trazem bem estar e continuo fazendo tortas”, relatou.

 

O pilates para amenizar a dor

Mas uma das mudanças que veio com o câncer, embora seja contraditória a ele, foi o pilates, iniciado para tentar amenizar a dor provocada pela doença. Esta prática é uma das mudanças na vida de Regina, pois o câncer se foi, mas o pilates ficou. “Esta prática traz uma consciência corporal muito grande, uma flexibilidade, resistência e um bem estar geral. As aulas são muito importantes para mim. Percebo uma evolução dos meus movimentos e sinto melhora na resistência e na flexibilidade. Acredito que, através do pilates, consigo uma boa qualidade de vida e uma disposição para as atividades cotidianas. Sempre vou às aulas com motivação e procuro não faltar para não perder a sequência das atividades. Outro aspecto importante das aulas é a competência e o profissionalismo da educadora física Rosi, sempre orientando, ajudando e corrigindo os movimentos”, explicou.

 

Mesmo já completando dois anos de atividades, Regina ainda enfrenta algumas pequenas dificuldades nos exercícios. “Alguns movimentos de flexibilidade precisam melhorar. Além disso, tenho dificuldade de executar movimentos com o braço esquerdo, principalmente exercícios de força e torções. Mesmo assim, evolui muito desde a cirurgia. A cada dia percebo uma melhora maior”, comemora.

 

O fortalecimento pela fé

Questionada sobre que ensinamentos lhe deixaram os exercícios e a doença, Regina admite que todas as experiências vivenciadas deixam marcas e ensinam algo. “O câncer me ensinou a acreditar na força interior para enfrentar as adversidades. E com o pilates aprendi a conhecer meu corpo, habilidades motoras, as limitações na execução dos exercícios e na capacidade de realizar os movimentos corretamente. Aprendi que a persistência e a determinação sempre levam ao sucesso e que devemos estar abertos a novas aprendizagens e experiências. Tudo o que eu passei ajudou a fortalecer minha fé. Sem ela não teria conseguido superar esta situação. Sei que o câncer tem 20% de probabilidade de voltar, mas minha fé me fortalece, com 80% de chance de cura para sempre”, avaliou.

 

Para ela, o ponto fundamental no enfrentamento do câncer foi a família e os amigos. “Tive também várias manifestações de outras pessoas, como da minha vizinha de 100 anos, que veio me visitar trazendo palavras de esperança e superação. A funcionária do estacionamento que desejou uma ótima recuperação e uma moça desconhecida, no mercado, que me abraçou e disse que tudo ia passar e melhorar. Todas estas vibrações me fortaleceram e ajudaram muito na minha recuperação”, finalizou, sob o olhar atento do mascote da família, Toni, um Cocker apaixonante que passa o tempo todo com ela.

 

O seguimento da prática do pilates

A pouco mais de dois quilômetros da casa de Regina fica o Estúdio Rosi Dias, onde fui acompanhar o desempenho dela em uma aula de pilates, dois anos depois. “Já faz dois anos que a Regina pratica pilates regularmente duas vezes por semana. Lembro que no início ela teve muitas dificuldades com os movimentos, ainda não conhecia seu próprio corpo e não sabia do seu potencial. Aos poucos, foi se descobrindo, se encontrando com o pilates, se soltando e querendo mais”, recorda a educadora física.

 

Rosi destaca que aos poucos, as duas foram construindo juntas um corpo mais forte e inteligente, por meio do princípios do pilates. Somente com a disciplina, a paciência e a persistência da Regina isso foi possível”, revela Rosi, e completa: “ela é incrível, e olhando a execução dos movimentos hoje, considero uma grande vitoriosa. Tenho orgulho e fico feliz por ela” avalia, destacando que Regina hoje consegue realizar todos os exercícios, desde o mais básico até o mais difícil. “Ela gosta de desafios e se desafia o tempo todo, não desiste de nenhum até chegar a perfeição”, ressalta.

 

Rosi define como algo contagiante, o sentimento que tem quando vê a aluna realizando movimentos, se entregando para a prática e fazendo coisas que ela jamais imaginava que fosse fazer. “Gosto de desafios e a Regina foi um daqueles que eu chamo de bons”, define, sorrindo. “Hoje olho para ela tão bem, dona de si, forte, feliz, cheia de vida, e penso que tudo valeu a pena e que fico feliz porque meu trabalho tem contribuição nesse processo”, conta.

 

Dorzinha gostosa

Segundo Rosi, as dores de hoje são o que ela chama de “dorzinha gostosa”, do tipo que a gente sente quando a aula foi “boa”. “Na época das sessões de quimioterapia ela sentia muitas dores, foi bem difícil, mesmo assim ela não desistiu, e nem eu. Conversamos a respeito e fomos devagar, aos poucos as coisas aconteceram, no tempo que tinha que acontecer, sem pressa, sem deixar o ego falar mais alto e com muito cuidado”, recorda.

 

Rosi diz que o fato da aluna ter seguido com as aulas de pilates tem ainda motivos como não só fato de gostar da prática, mas também da turma, das risadas. “Não houve interferência da minha parte, acredite, eu sempre deixo os alunos a vontade para decidirem o que é melhor para si. Neste caso, o porquê da continuidade é uma coisa que eu gostaria de saber dela”, diz, entre risos.

 

Estas histórias, de superação e amor pela vida, fazem da educadora uma profissional feliz. “Sou muito feliz com meu trabalho, com os alunos e muito mais feliz em saber que esse trabalho que realizo com tanto amor está ajudando outras pessoas. Tudo valeu muito à pena. Ver a Regina feliz, com esse sorriso lindo e os olhos brilhando, é uma coisa que dinheiro no mundo paga”, finaliza.

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